quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Tag: Playlists

Uma das sessões que abro aqui no novo Capin-Cidreira é a de playlists. São playlists que crio no spotify e vocês podem ouvir, seguir, compartilhar.
Um tipo de Playlist que gosto de criar é aquela que evoca um sentimento específico, elas não necessariamente tem a mesma temática ou estrutura, mas elas despertam uma memória, um cheiro, uma cor determinada.
Atualmente tenho algumas playlists prontas e vou fazer postagens falando sobre elas, qual foi o sentimento buscado ali e qual é a função de emular tal sentimento.

Por enquanto, vocês já podem ouvi-las no Meu Perfil :3

Para a criança

Hoje, se te chamasse pra conversar, desconfio que não falaríamos mais a mesma língua. Saberia eu, na minha ignorância adquirida, começar uma conversa sobre algo de relevância?
A idade só me trouxe desinformação. Conversas sobre o clima.
A idade me permite ir a lugares muitos distantes que antes só me eram acessíveis através da imaginação, entretanto, quando chego a esses lugares, não sei o que busco. Não me é evidente o que olhar, com quem conversar. Falta-me sua linguagem para que eu possa atribuir sentido a essas novidades a que você não me acompanha, essas turbulentas informações que não consigo designar sentido.
E se chego até você buscando ajuda, faço-o sem saber como. Essa fenda que se abre pode subitamente se fechar e minha pergunta vai ficar suspensa no ar. Caso aconteça, não venha me procurar. Adianto-lhe o que iria encontrar: um corpo desengonçado que nem senhor de si é, que tem medo da noite, que não dorme no escuro, que não faz por medo de errar.
Escuta, não venha. Não há nada para ver aqui. Ajude-me quando eu lhe buscar, é tudo que imploro. Pois sou vazio, pois sou confuso e já não sei mais das coisas, já não sei mais de nada.
Perdi-me num anseio enorme de achar que quem crescia era quem sabia do mundo.
Não sabemos de nada. Nossa consciência é turva, nosso tempo dedicado a coisas sem sentido.
Repito, não sabemos de nada. E agimos como se isso fosse irrelevante, fato de pouca importância.
Estamos preocupados em preparar almoços, discutir com parentes, fomentar guerras. Estamos atarefados ignorando o conhecimento de quem realmente o detêm. Estamos ocupados calando-os.
E estamos também ocupados procurando dentro da gente a estrada que nos leva a vocês. Porque carregamos fardos pesados demais e queremos que seja por um motivo: a gente espera que vocês saibam qual.
Mas eu não.
Carregamos fardos porque somos tolos, buscamos vocês porque somos egoístas e calamos a todos porque nos achamos o centro do mundo.

E já estou me dispersando, fugindo do assunto.
Se te invoco, é para reaprender com você a ver o mundo, a saber das coisas. Se me aproximo de você e desestabilizo o ecossistema frágil de sua existência, é porque, como antropólogo curioso, quero dar-te voz. Quero torná-la meu nativo. Pois é isso o que você foi, o que você é. E por isso sua voz é tão poderosa. Porque você intrigava mesmo os seus semelhantes. Entre as crianças, você sempre foia que só queria performar esse papel. E dentro dele, você assumiria todos os outros. Como um ator que sabe que, em primeiro lugar e antes de qualquer coisa, ele é um ator e em seguida estão todos seus papeis. Você é criança.
Você é algo que eu jamais poderei ser.
Sendo assim, busco orientação, nada me tornará você, nada mudará a essência do que sou agora. Mas sua orientação pode ser a diferença entre eu carregar fardos por uma estrada estranha que acredito levar ao passado, ou eu caminhar de cabeça erguida por terras nunca desbravadas com a certeza de que não fiz por mal em abandonar todos os pesos.


O Silêncio é seu amigo

 Faz tempo que não venho aqui. A verdade é que volto aqui quando preciso desse espaço: um lugar quieto que eu possa falar sozinha na interne...