Estou afastada do trabalho há algumas semanas devido a um burnout, nesse tempo tive a oportunidade de entender um pouco o que é um burnout, mas só um pouco, porque uma das coisas que acontece é que sua cabeça começa a não funcionar muito bem. Eu não percebi. É que nem quando você é burro, quem sofre são os outros. Quando você tá numa espiral de auto-destruíção também é assim, quem percebe são os outros. Pra mim, eu conseguia perceber que as coisas estavam piores, mas não sabia pontuar exatamente como e não conseguia dar o devido peso a essas coisas, já que não conseguia nomeá-las direito. Foram alguns meses até eu aceitar que realmente precisava de ajuda. E, no caso do burnout, a ajuda vem muito na forma de tempo. Eu precisava de tempo. Eu ainda preciso, as coisas ainda estão acontecendo, só que o ritmo já se acalmou. Tempo E medicação. No meu caso, atualmente, algumas. E medicação é chato. Tem efeito colateral, tem período de adaptação, as vezes não dá certo. Enfim.
Nesse tempo, a vida tem passado em outro ritmo. Nas primeiras semanas, eu parecia uma batata. Mal conseguia formular uma frase inteira de pensamento. Passei dormindo e vendo televisão, mas mesmo televisão tinha que ser coisas que não exigissem demais de mim. Era desesperador. Eu agradecia por estar viva e por estar conseguindo finalmente me cuidar, ou como diria Eliza “Look at where you are, look at where you started, the fact that you’re alive is a miracle. Just stay alive, that would be enough”(para referência, buscar música “That would be enough” do musical Hamilton). Para além disso, eu me sentia burra. E não burra do jeito que eu me sinto quando ouço pessoas que entendem de alguma coisa debatendo sobre ela. Burra de não conseguir formular um pensamento lógico, de não conseguir criar soluções lógicas para as coisas. Eu fazia tudo de um jeito lento e burro. E eu fazia quase nada todos os dias.
A única coisa que eu faço todos os dias e coloquei como parte fundamental da minha nova rotina é o que eu chamo de “wake up slow hmmm hmmm wake up slow” (para referência, buscar a música “banana pancakes" do Jack Johnson). Que consiste em acordar lentamente, preparar meu café da manhã com calma, tomar minha medicação e escrever de seis a dez páginas de baboseiras que vem a minha cabeça pela manhã. As vezes, mais recentemente, até ensaiar uma poesia. Sem métrica, sem rima e quase sempre sem graça, entretanto, é minha diversão matinal. Aquela certeza que vai acontecer todos os dias e que me motiva a levantar.
A casa ganhou outros ares nesses tempos também. Minhas plantas gostaram de receber mais atenção e cresceram vigorosamente. Assistir elas reagindo a mudança na umidade do ar, na iluminação, na quantidade de água que eu lhes dou ou no vaso novo que as coloquei, tem ocupado meu tempo também.
Junto com me afastar do trabalho, me afastei de algumas outras coisas também. Acontece que, apesar de burnout ser considerado uma condição vinculada ao trabalho, você pode ter um burnout relacionado a qualquer coisa. Eu não sabia (e não sei ainda) pontuar exatamente o que me trouxe até aqui, então resolvi tirar tudo o que parecia que estava me sobrecarregando (o que dava pra tirar né). Troquei minhas senhas do Twitter e do instagram para que eu não conseguisse acessa-los. De repente, meu celular não parecia mais um objeto atraente que eu buscava constantemente, ele se torna um dispositivo que as pessoas usam para conversar comigo. E as vezes faz falta, as vezes eu sinto que as pessoas vão se esquecer de mim porque eu não estou mais presente dando likes e respondendo postagens com comentários que eu me esforço tanto pra parecer cool (gente, nunca fui cool, desculpa se alguém acreditou nisso). Eu não quero voltar. Eu sei o quanto eu não sei usar. Eu tenho uma relação problemática com a internet antes mesmo das pessoas saberem que era possível ter uma relação problemática com a internet. Lá em 2003 tenho página diários falando como eu estava viciada e passava o tempo criando blogs (oi, tudo bem? Rs). Não sei brincar, me tranco pra fora.
Todo ano eu gravo um vídeo depoimento contando como está minha vida, já faço isso há alguns anos. Era pra eu ter feito isso em junho. Gostaria que eu tivesse feito, pra comparar e ver como o tempo tem me ajudado. Ele não cura tudo, mas ajuda demais em muita coisa. Tenho me sentido melhor e em breve devo voltar ao trabalho, dessa vez prestando mais atenção em tudo que eu faço e buscando fazer uma coisa de cada vez. Eu vou ficar bem.