segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Anima Mundi 2018


Entrada no Memorial da América Latina
Anima Mundi é o maior festival de animação da América Latina e nessa última semana (01 a 05 de agosto) teve sua 26ª edição na cidade de São Paulo. É um festival que eu tenho muito carinho e apreço, ano passado eu falei um pouquinho dele e da minha relação com animação nesse post aqui. Esse ano achei que seria legal fazer o mesmo para compartilhar as animações que mais me impactaram e as coisas bacanas que aprendi nesses 5 dias de evento.

Novamente, graças a ventos felizes do destino, consegui estar presente no Anima Forum em que diversas pessoas da área apresentaram Masterclasses.

A primeira foi com Jean-Louis Padis que é diretor de fotografia para animação em Stop-Motion, trabalhou em curtas como Negative Space que ganhou prêmios ao redor do mundo (inclusive concorreu ao Oscar), e ele trouxe muito dos aspectos técnicos da prática com relação a iluminação e câmera, foi extremamente técnico e enriquecedor.
O segundo dia, e confesso que o dia em que estava mais ansiosa, trouxe Anitta Doron, roteirista que trabalhou no longa A Ganha Pão, do estúdio irlandês Cartoon Saloon. O filme trás a jornada de uma garota afegã que tem que se passar por um menino para conseguir prover para sua família enquanto o pai está preso. Anitta falou sobre as dificuldades de quebrar nossa visão ocidentalizada ao contar uma história centrada em outra cultura. Foi um papo gostoso em que ela se mostrou extremamente acessível, apontando diversas vezes que as coisas que nos conectam muitas vezes falam mais alto do que as aparentes diferenças.
O terceiro dia trouxe Kevin O'Brien, roteirista da pixar que já trabalhou em diversos curtas e longas, incluindo Os Incríveis e Wall-e. A fala dele se focou em como conceber imagens que vendem a ideia que você quer passar em determinada cena e como, a partir de uma imagem principal, construir a ação para chegar nela. Ele é um cara que já está a muito tempo trabalhando com isso e é visível a experiência dele.
No quarto e último dia, o evento trouxe Matias Liecbrecht, animador brasileiro de Stop Motion que já trabalhou em produções com o Boxtrolls, Frankenweenie e mais recentemente em Ilha dos Cachorros, longa do diretor Wes Anderson que teve uma sessão especial no festival (falo disso mais pra frente).  Ou seja, ele está envolvido nas maiores produções atuais de Stop Motion e, poxa, BR! Ele contou um pouco da trajetória dele, das experiências dele como animador. E animou um ciclo de caminhada ao vivo no final desse bate-papo. Foi incrível! Stop motion é uma técnica tãaaooo assustadora, mas ele falou com uma paixão do negócio que foi impossível não ficar contagiada e curiosa! Foi incrível!

Além das Masterclasses do Anima Forum, assisti ao Papo Animado com o Wesley Rodrigues. Outro animador goianiense, dessa vez do 2D, que chama muita atenção pela sua produtividade, faz muito da sua produção sozinho e tá aí, lançando curtas lindos demais, com uma linguagem própria. Impressionante. Na sessão foram exibidos todos os curtas dele, ele comentou como foi sua estreia na animação e todos os lugares que isso acabou por leva-lo. Ao ser questionado sobre financiamentos, ele respondeu que precisava ter trabalhos paralelos para se manter, pois é muito difícil contar só com edital, sendo assim, o processo dele envolve começar a fazer o filme e ir tentando financiamentos enquanto ele está sendo produzido, se o filme fica pronto e não conseguiu nada, pelo menos ele está no lucro do filme ter sido feito. Seu trabalho que me chamou mais atenção foi o curta "Viagem na Chuva".


Apesar da vontade de ver todas as sessões, isso não foi fisicamente possível (Que pena). O ponto mais alto (mesmo), pra mim, foi o curta Love me, Fear me, um curta em Stop Motion que foi o trabalho de conclusão de curso Veronica Solomon, uma animadora americana morando em Berlim. Inacreditável. A descrição da obra é a seguinte:
"What would you be willing to do for them to like you? " 
LOVE ME, FEAR ME is a danced out story about the roles we play and the shapes we take, the music we follow and the stages we chose, the audience we try to impress and the price of acceptance. "And what if they don't like you enough?" 

(Em tradução livre: "O que você estaria disposto a fazer para que eles gostassem de você?"
Ame-me, Tema-me é uma história dançada sobre os papeis que interpretamos e as formas que tomamos, as músicas que seguimos e os palcos que escolhemos, as audiências que tentamos impressionar e o preço da aceitação. "E se eles não gostarem de você o suficiente?") 


Além das sessões de curta, assisti ao longa nacional Tito e os pássaros. Produzido pelo Split Studio, um estúdio de São Paulo. O filme teve sua primeira sessão nacional oficial no festival e foi muito bacana assistir sabendo que grande parte da equipe também estava presente e vendo o filme pela primeira vez. Ele trabalha a questão do medo como algo paralisante e algo a ser combatido e tem muitas pombas. O filme tá bonito!


Também teve uma sessão especial do longa Ilha de cachorro, do Wes Anderson, que o Matias participou! O filme está maravilhoso, vale muito a pena procurar pra assistir! E assim, é um stop motion, a gente tem que lembrar nosso cérebro no meio do filme que aquilo foi feito frame a frame a frame e que tudo que está na tela foi produzido manualmente e existe no mundo real. Gente. Demais. 


Um dos espaços do evento trazia exibição de curtas com óculos de realidades virtual (VR) e dos que eu vi, o que mais me chamou atenção foi o Wolves in the Walls, animação baseado no livro de Neil Gaiman com o Dave McKean. Além da realidade virtual, era possível interagir com a personagem e caminhar pelo cenário. Uma experiência bem interessante.


O festival não é só sobre as sessões e as palestras, toda a aura do evento é muito bacana, especialmente pra quem tem afinidade com a área. Sempre rola de reencontrar pessoas queridas e conhecer gente nova que também tá na batalha de produzir animação no Brasil. Tudo isso aquece demais o coração!

Eu e o Oswaldo
Assim como ano passado, vou deixar de bonus aqui uma animaçãozinha (tosca) que fiz em uma das oficinas enquanto esperava pela próxima sessão! :3



O Silêncio é seu amigo

 Faz tempo que não venho aqui. A verdade é que volto aqui quando preciso desse espaço: um lugar quieto que eu possa falar sozinha na interne...